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Provas

Maratona de Berlim

Written by Michel Correa

Sem duvidas até agora uma das provas com a maior mistura de sentimentos que já fiz.

Conhecer um lugar novo, idioma diferente, outra cultura. A expectative de quebra de recorde. Temperatura mais elevada do que o normal, mas o principal para mim foi o fato de ir para esta prova tentando me recuperar de dores na canela que estavam me impedindo de treinar grandes volumes, tão importantes para se fazer uma maratona bem.

Dito isto vamos a experiencia desta maratona. Me planejei para chegar quase uma semana antes para tentar me adaptar com fuso de 5 horas e conhecer um pouco a cidade antes da prova. Sai de São Paulo voando durante a noite, fiz uma parada de 12 horas em NY, aproveitei para dar uma volta e durante a noite fui para Berlin. Primeiro “choque” foi com a simplicidade do aeroporto, super pequeno, me lembrando uma rodoviária mais moderna, porém, tudo muito organizado e rápido.

Quem vai para Berlin com inglês da para ser virar muito bem, não falei 1 palavra em alemão durante os 10 dias que fiquei na cidade.

É muito fácil andar de metro na cidade, porém optei por manter as atividades físicas alugando bicicletas para conhecer a cidade, assim conseguiria manter um pouco da atividade física, sem gerar impacto sobre a canela que estava recuperando da dor.

Tem bicicleta que aluga por aplicativo espalhada pela cidade inteira, então foi fácil alugar a bike, para em um ponto turístico e achar outra bike depois para ir pro próximo ou retornar para casa.

A cidade tem um misto de beleza e uma carga histórica pesada por todas as mortes de guerra, muro de Berlin, memorial do holocausto, entre outros pontos conhecidos, recomendo ler um pouquinho sobre o lugar antes de ir ou assistir alguns filmes, vai tornar sua viagem mais interessante.

Falando sobre a prova, a retira do kit é totalmente diferenciada, pois acontece em um antigo aeroporto, então literalmente você se sente fazendo check in para embarcar e vai em direção aos andares para buscar o número de peito.

Um ponto interessante é que em Berlin você só recebe o numero de peito e pega o chip em consignação, se não devolver o chip paga por ele, porém se quiser pagar, pode suar futuramente. Todo o restante do material oficial da corrida você tem que comprar. Os preços se não pensar em conversão até que são justos, 99 euros uma jaqueta, 30 euros uma camiseta, mas quando convertemos para nossa moeda, estamos falando de R$ 500,00 e R$ 150,00 respectivamente.

A expo contava com uma area externa, quase na pista dos aviões, e uns 3 angares (lembrando que era um aeroporto) gigantes com muitos exibidores de marcas distintas, porém achei muito do mesmo, suplementos, tênis, meia, faixa de cabelo, tudo que se vê em expos de corrida porém com mais marcas.

Dois dos patrocinadores oficiais da prova BMW e Adidas tinham areas maiores para exibir seus produtos, a BMW com seus carros elétricos e a Adidas com os produtos oficiais da prova, diga-se de passagem pelo feedback que ouvi parece que escutaram as reclamações do ano anterior e capricharam nos modelos deste ano de 2018.

Mesmo falando de quase 44.000 inscritos para maratona e quase outros 20.000 em provas como maratoninha para crianças e maratona de patins, foi super tranquilo retirar o kit. O local é de fácil acesso. Como sempre a dica é não deixar para o sábado, pois muitas pessoas chegam na cidade na sexta ou sábado pela manha e vão no ultimo dia para expo.

No sábado que antecede a prova, muitas assessorias e marcas esportivas organizam a famosa corrida leve para soltar as pernas, geralmente percursos de 5 a 6km. Ótimo para bater um papo, aliviar a tensão pre prova e conhecer mais um pouco a cidade, não deixei passar a oportunidade e corri com uma das marcas.

Próximo ao local da largada montaram o Hall da Fama, onde naquele mesmo dia no final da tarde alguns atletas dariam entrevista. Minha expectativa inicial era ver a elite que largaria no dia seguinte e talvez conseguir um autografo do Eliud Kipchoge do Quênia, mas antes de ver a elite daquela prova, fui surpreendido pela presença de um atleta brasileiro que fez historia em Berlin e eu desconhecia até aquele momento, Ronaldo da Costa, que em 1998 bateu o recorde da prova e com isso 20 anos depois, entrou para o Hall da Fama da maratona de Berlim, ele foi recebido com muito carinho pelos alemães e pelos brasileiros que estavam lá no local.

Enquanto Ronaldo e outros davam entrevistas, vi um atleta chegar quietinho por um canto e tomar a atenção de alguns que estavam por ali, inclusive eu, ninguém menos que Eliud Kipchoge, vencedor no ano anterior e que vinha para tentar quebra seu recorde pessoal e talvez o recorde mundial.

Dono de uma simpatia que o torna um dos atletas mais respeitados do mundo, consegui uma foto com ele e sua assinatura no tênis igual ao que ele correu (e venceu) a maratona de Londres em abril deste ano. Eu até ia correr com este tênis a prova, mas depois que ele assinou, resolvi guardar e usar outro.

Depois desta carga de emoção em ver um ídolo de perto e aumentar minha expectativa para a prova, só restava ir para casa descansar e contar que a bagagem de outras maratonas e o preparo que fiz na academia dessem conta mesmo com volume baixo de treinos de corrida.

No dia da prova,  acordei bem mais cedo, tomei o café, isto é importante em dia de prova para dar tempo de ir ao banheiro ainda em casa com tranquilidade, sempre tem banheiros químicos nas provas, mas tem fila e não são tão confortáveis.

Novamente encontrei uma bicicleta próximo de onde estava ficando e fui pedalando até próximo a largada para aquecer, quase 2km.

Senti um pouco de falta de sinalização se comparado a outras majors que fiz, contudo se seguir o fluxo você chega tranquilamente. Uma duvida que muita gente tem é se vale a pena levar a sacola para por no guarda volumes, acabei optando por não levar pois não conhecia o local e fiquei com medo de me atrasar, mas olhando depois teria dado tempo tranquilo, a area é bem ampla e muito rápido para guardar as sacolas.

Achei um pouco tumultuado o acesso aos currais de largada, quando você está quase chegando na área que de fato tem os currais fica um pouco apertado a passagem, porém quando ultrapassa essa parte é super tranquilo achar a letre do seu curral e terá muito espaço.

Quem larga depois da elite consegue ainda ver as largadas acontecendo em ondas pelos telões.

Eu estava na onda E, o carinho com os brasileiros nesta prova é tão grande, que fomos surpreendidos com a musica da Ivete Sangalo com centenas de brasileiros cantando em coro: “Poeiraaaaa, Poeiraaaaa, levantar poeiraaaa”, fico arrepiado e emocionado só de lembrar, pois encontrei outros brasileiros neste curral e ficamos juntos cantando embalados pela emoção.

Assim que começou a prova, já largarmos em uma pista muito larga, plana e as pessoas não ficam se esbarrando, como em outras que fiz, dois dos brasileiros estavam comigo na largada, saíram em ritmo similar ao meu, e com isso fomos um ajudando o outro por alguns quilômetros. Eles estavam bem melhores preparados que eu, mas conversando, isto me ajudou a não sentir os primeiros 21km da prova, meus agradecimentos ao Lucas e Roger.

Não é a toa que a prova é conhecida pela quebra de recordes, quando eu estava passando os 21km para 1:39, o Eliud Kipchoue estava muito proximo de concluir a maratona e prestes a quebrar o recorde mundial, que viria a acontecer um pouco mais para frente com 2:01:39.

Depois disso a falta de volume nos treinos fez a conta chegar, me separei dos meus colegas e falei para eles seguirem, dali em diante eu segui mais devagar e até passando um pouco mal, a pressão baixou um pouco, mesmo assim eu queria muito terminar a prova, então fui administrando, andei um pouco nos pontos de hidratação, foi o suficiente para terminar a prova com 3:49:00 e um gostinho de querer repetir a prova, pois se fizer esta prova bem preparado as chances de baixar o meu tempo de Londres de 3:24 é bem factível. Cheguei cansado mas feliz de ter terminado. Toda maratona ensina uma lição, pois é uma prova que exige respeito, respeito com a distancia, respeito com seu corpo, respeito e responsabilidade com tudo que está envolvido para conseguir fazer uma prova como esta.

A medalha ganhou um significado maior ainda para todos, pois na frente tinha o portal de Brandeburgo, que da um ar especial para prova fazendo com que ela tenha “2 chegadas” e atrás o rosto do Eliud Kipchoue, vencedor no ano anterior.
Participar da prova onde foi quebrado o recorde mundial, com direito a autografo do recordista, só me faz querer mais ainda voltar e fazer melhor, porém antes disso tenho outro desafio, fui sorteado para Maratona de Tokyo, então agora é focar nesta e depois pensar em refazer Berlim, agora é construir uma nova historia para contar para vocês depois. Vamos rumo a Tokyo.

About the author

Michel Correa

Paulista de 43 anos, agile consultant e product manager.
Corredor de maratonas nas horas vagas.
Embaixador Centauro Esportes

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