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Provas

Como é correr a Maratona de Londres

Written by Michel Correa

No domingo 22/05/18 participei da maratona de Londres. Uma prova que compõe uma das 6 principais maratonas do mundo, conhecidas como majors, onde estão Nova Iorque, Boston, Chicago, Berlin, Tokyo e a própria Londres.

O clima para esta prova é sempre de de muita expectativa para todo mundo, para os amadores porque ser sorteado para esta prova é muito difícil, ou você consegue por sorteio ou compra em agencia especializada (por uma fortuna) ou ajudando arrecadar dinheiro para alguma instituição de caridade, mas o valor para arrecadar também não é baixo, se você não consegue ajuda dos amigos tem que pagar sozinho a quantia pedida para arrecadação (algo em torno de 1500 libras, 1 libra está quase 5 reais), este ano em especial a organização bateu novo recorde de inscrições, cerca de 386.000 para apenas 50.000 vagas, sendo estas distribuídas em proporções bem diferentes entre os continentes e no Brasil a maioria dos corredores achavam que era impossível ser sorteado, até que este que vos escreve quebrou este jejum para o Brasil, devo ter sido um dos pouquíssimos (se não o único) a ser sorteado para prova em 2018. Resultado que recebi no dia que desembarquei em Chicago em outubro de 2017 para fazer também uma das majors. Confesso que demorei para acreditar e até achei que era um “trote” de internet, mas não era felizmente.

Muitos brasileiros compraram as inscrições através de agencia e fazendo as doações, consegui identificar aproximadamente 30 a 35 brasileiros na prova, bem menos que em Chicago que cheguei a ver mais de 150 só de uma assessoria, mas deveriam ter mais.

A entusiasmo dos expectadores estava altíssimo também, pois a elite estava repleta de estrelas este ano e cogitou-se muito a possibilidade de quebras de recordes mundiais tanto no feminino quanto no masculino, recordes este de 2h 15m 25s (Paula Radcliffe) e 2h 02m 57s (Dennis Kimetto).

Destaques no feminino estavam e seus melhores tempos atuais:

– Mary Keitany com tempo de 2h 17m e 1s (Tri Campeã da prova)- Tirusesh Dibada com tempo de 2h 17m 56s

Destaques no masculino estavam:
– Eliud Kipchoge com tempo de 2h 03m 05s (campeão olímpico, bicampeão de Londres)- Kenenisa Bekele com tempo de 2h 03m 03s- Guye Adola com tempo de 2h 03m 46s- Daniel Wanjiru com tempo de 2h 05m 21s.

Por estes tempos e a ansiedade para quebra de recorde imagina como estava o clima né? Já conto para vocês como terminou a corrida da elite.
Durante toda semana que antecedeu a prova, a temperatura estava girando em torno 6 a 14 graus celsius, temperatura ótimo no meu ponto de vista para uma prova longa, eu mesmo me preparei para uma prova bem fria, tenho até preferencia para não aquecer tanto o corpo e poder arriscar um pouco mais na velocidade, faltando uns 2 dias para a prova a previsão começou a virar e veio a se concretizar no domingo, cerca de 22 graus com céu limpíssimo e sol forte que dava uma sensação térmica maior do que a mostrada no termômetro.

Com a ultima largada da elite masculina e os demais amadores as 10:00am em ponto, dada por ninguém menos que a Rainha em pessoa, o sol já estava alto e fez com que os mais prevenidos controlassem o ritmo para não quebrar (termo que usamos na corrida quando perdemos rendimento ou nos machucamos).

Foto Divulgada no Facebook da Prova


Como as ruas na Europa costumam ser pequenas, em Londres não foi diferente, contudo a organização foi impecável, organizaram a largada saindo ao mesmo tempo de 3 locais diferentes, para evitar aglomerações e mantendo a distancia aferida pela prova. Os corredores em cada local de largada estavam divididos também por velocidade que pretendiam finalizar a prova, assim evitando atropelamentos.

Diversos postos de hidratação e quando souberam do calor, os bombeiros de Londres rapidamente montaram postos extras de chuveiros de agua fria para resfriar os corredores.

Tratei de fazer uma prova mais estratégica, segurando a velocidade no inicio para conseguir ir com ela até o final. O trajeto é lindo, passando por pontos históricos da cidade, o clima de segurança era alto, helicópteros, muitos policiais fardados e muitos disfarçados.

A calor realmente impactou muitos corredores, principalmente da metade da prova entre o quilometro 20 ao 21 onde passamos pela famosa tower bridge. A partir deste ponto comecei a ver muitas pessoas diminuindo a velocidade e alguns caminhando, ao mesmo tempo, muitos começarem a comemorar a chegada naquele ponto. Eu fui um dos que ficou realmente encantando em poder passar pela ponte completamente fechada para nós.

Foto divulgada pela organização do evento.


Tive o prazer de ver todo time de elite da prova passar por mim no sentido oposto, quando eu estava por volta do km 24 e eles já no 35 voltando. Estava uma disputa pesadíssima, isso me motivou ainda mais tentar manter o ritmo e buscar meu recorde pessoal, que até então era de 3:25:53 em Chicago, para alguém como eu que perdeu quase 30kg com exercícios e corrida, me manter estimulado por um desafio ajuda muito a não voltar ter uma vida sedentária. E o clima destas provas ajuda muito, vejam abaixo o exemplo do corredor com mais idade participando, 87 anos.

Divulgação no Facebook da Prova

A partir do Km 30 comecei a ver uma ou outra pessoa parando até que próximo do km 35 comecei a ver algumas desmaiado, possivelmente com pressão baixa por causa do calor, mas uma frase divulgada durante os dias que antecediam a prova era: Spirit of London (O espirito de Londres), até então não tinha entendido muito bem, mas depois capitei a mensagem, tem sempre alguém para te ajudar, não importa quão mal você esteja, e isto realmente aconteceu, para cada pessoa passando mal vinham várias apoiar.
Comecei a prova preocupado e não queria deixar que a preocupação atrapalhasse minha prova, então em Londres, fiz algo diferente, escrevi com caneta no meu braço esquerdo o nome de 4 pessoas muito especiais na minha vida e montei uma estratégia na cabeça de fazer 4 provas de 10km dedicando cada 10km para uma destas pessoas. Provas longas exigem muito da cabeça, se manter focado ajuda muito a terminar a prova.

Foto de arquivo pessoal tirada a caminho da prova.

 Juliana, minha noiva, Marcelo meu irmão que chamo de mano, meu Pai e minha Mãe. Pessoas que me apoiam e me incentivam muito nestas provas pelo mundo.
Deu muito certo esta estratégia, ao finalizar cada trecho eu pensava mentalmente, agora é pra você, vamos comigo estes próximos 10km. Assim foi trecho a trecho até faltar 2km e 195 metros, onde o corpo já está bem cansado, mas a torcida e a vontade de terminar era tão grande que eu só conseguia pensar na linha de chegada, foi onde puxei minha bandeira do Brasil e recebi o carinho de muitos torcedores nesta reta final, nos tratam muito bem ao ver uma bandeira brasileira.

Foto divulgada pela organização da prova.


Consegui chegar fazendo novo recorde pessoal com tempo de 3h 24m 39s, 4 minutos acima do que eu planejei fazer enquanto ainda achava que seria uma prova fria, mesmo assim sai muito feliz com o resultado.
Chegando fiquei sabendo sobre o resultado da elite, que deu:
Feminino
1 – Vivian Cheruiyot – (Quênia) – 2h 18m 31s
2 – Brigid Kosgei – (Quênia) – 2h 20m13s
3 – Tadelech Bekele – (Etiópia) – 2h 21m 40s
4 – Glads Cherono -(Quênia) – 2h 24m 10s
5 – Mary Keitany – (Quênia) – 2h 24m 27s

Foto divulgação: Instagram @londonmarathon

Masculino

1 – Eliud Kipchge – (Quênia) – 2h 04m 17s
2 – Shura Kitata –  (Etiópia) – 2h 04m 49s
3 – Mo Farah – (GBR) – 2h 06m 21s
4 – Abel Kirui – (Quênia) – 2h 07m 07s
5 – Bedan Karoki – (Quênia) – 2h 08m 34s
6 – Kenenisa Bekele – (Etiópia) – 2h 08m 53s

Foto divulgação: Facebook


Infelizmente um dia após a prova a organização do evento divulgou a morte de um participante de 29 anos Matt Campbell, um dos finalistas do Masterchef, ele desmaiou no km 35 e veio a falecer depois no hospital, poucas semanas antes ele havia completado uma outra maratona em menos de 3 horas, e estava correndo esta maratona em tributo a morte de seu pai em 2016.

Matt campbell antes da corrida a direita.


Não o conhecia e não acompanhava o Masterchef de lá, mas esse fato mexeu bastante comigo, pois ele era 10 anos mais novo que eu, por isso é sempre muito importante consultar um médico antes de sair fazendo exercícios.
A organização da prova com benção da familia (como eles divulgaram), convidou o time da organização da prova e os corredores através da rede social para correr 3.7 milhas (7 quilômetros e 195 metros) que faltaram para o Matt completar a prova, através da campanha #FinishForMatt
E assim retomei meus treinos na época pós maratona, em homenagem a um desconhecido que estava no meio de quase 45.000 pessoas que completaram a prova, corri 7km 195 metros.

About the author

Michel Correa

Paulista de 44 anos, agile consultant e product manager.
Corredor de maratonas nas horas vagas.

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